O ano: 1999. A banda: IRA! O disco: Isso é Amor.
A opinião:
Lembro quando eu escutei o álbum Isso é Amor, primeiro porque erroneamente eu esperava a audição de um disco de covers, e pelo contrário, é um cd com interpretação, coração e alma, bem executado, belos arranjos, uma banda entrosada e o ótimo vocal do Nasi.
Isso é Amor representou definitivamente a volta do IRA! a vitrine da mídia, emplacando em seguida nos anos seguintes o ao vivo e o acústico MTV. O disco lançado pela gravadora Deckdisc e pelo extinto selo Abril Music, teve como carro chefe a canção “Bebendo Vinho” de Wander Wildner, que fora exemplarmente executada nas rádios, e também seu clipe bem pedido na emissora MTV.
Ao completar dez anos em 2009, merece ser descoberto ou relembrado em razão de resgatar canções importantes para a música popular brasileira nos anos 70/80, como as versões “Sentado a Beira do Caminho” (Erasmo e Roberto Carlos), “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo” (Clube da Esquina) e “O Que Me Importa” (Tim Maia). Um trabalho altamente nostálgico e nunca piegas, que em sua essencia, aborda como tema principal o amor.
Isso é Amor pode ser adquirido na internet, para compra ou download, basta pesquisar, e é um dos legados de uma banda que infelizmente chegou ao fim por problemas internos.
Canções (clique nos títulos para conhecer as versões originais):
Bebendo Vinho (Wander Wildner): Uma versão deliciosa que sobrepõe a composição folk que versa sobre a solidão, escrita pelo gaúcho Wander Wildner. A Frase: “Vou me entorpecer bebendo vinho, eu sigo só o meu caminho.”
Teorema (Renato Russo): Uma versão “menos” rock que a composta pela Legião Urbana, e nem por isso menos legal. A Frase: “Não vá embora, fique um pouco mais. Ninguém sabe fazer o que você me faz. É exagero e pode até não ser.”
Telefone (Júlio Barroso): Com participação de Fernanda Takai (Pato Fu), “Telefone” é a reedição de uma das canções da Gang 90 & Absurdetes, comandada pelo performático Júlio Barroso, que faleceu em 1984 ao cair da janela de seu apartamento. A original tinha um “que” de eletrônico e o coral das absurdetes no refrão, os paulistanos colaboram com uma versão mais cadenciada que substitui o coral pela voz singela de Fernanda. A Frase: “Sua voz está tão longe ao telefone, fale alto mesmo grite não se importe. Pra quem ama a distância não é lance e nossa onda de amor não há quem corte.”
Chorando no Campo (Lobão / Bernardo Vilhena): A gravação do genioso “gênio” Lobão, era uma baladinha, o IRA! tratou de acelerá-la, deixando-a sensacional e ousada. A Frase: “Pela estrada enquanto eu passo, o cinema é só ilusão. Vou chorando pelo campo no meio do temporal.”
Flashback (Cláudio Rabello / Dalto): A canção de Dalto era uma balada com um arranjo de cordas apoiado no grave e um vocal suave contrapondo. A mudança não foi brusca, ganhou apenas mais leveza. A Frase: “Acho que eu mereço ganhar, o prêmio Nobel da paz. Acho que eu preciso brindar o nosso amor.”
Um Girassol da Cor de Seu Cabelo (Márcio Borges / Lô Borges): Do lendário Clube da Esquina, movimento mineiro de nomes como Milton Nascimento, Lô Borges, Flávio Venturini, Tavinho Moura, Toninho Horta, Beto Guedes e o letrista Fernando Brant por trás de suas composições que resultaram em dois álbuns Clube da Esquina e Clube da Esquina 2. A original Um Girassol… é notória pela sua métrica quase orquestral e a letra poética e belíssima. A versão do IRA! que tem participação de Samuel Rosa (Skank) não se iguala a pioneira, mas consegue com simples arranjos e belos vocais - dueto de Nasi e Samuel - ser deliciosa. A Frase: “Vento solar e estrelas do mar. A terra azul da cor de seu vestido. Vento solar e estrelas do mar. Você ainda quer morar comigo?”
Mudança de Comportamento (Edgard Scandurra): O IRA! procura se reinventar com uma canção clássica de seu primeiro álbum (1985) que dava nome ao disco. A versão antes inspirada pelo rock inglês, ganha uma roupagem soft, e refrão entoado de forma mais leve. A Frase: “E aqui estou eu sozinho com o tempo. O tempo que você me pediu. Isso é orgulho do passado, um presente prá você.”
O Que Me Importa (Cury Heluy): Eternizada na voz de Tim Maia, esta canção tem com a cantora Marisa Monte mais uma versão, lançada na mesma época que o IRA! Ambas as versões assim como a original, destacam-se pela tristeza exponenciada por uma letra forte, que narra o fim de um relacionamento. A Frase: “O que me importa seu carinho agora, se para mim, a vida terminou.”
Jorge Maravilha (Julinho da Adelaide): Esta é uma versão muito legal e cheia de swingue, Scandurra capricha nos efeitos em sua guitarra, na minha avaliação, a banda cumpriu o dificílimo desafio, que é trabalhar em cima de uma música de Chico Buarque. A Frase: “E como já dizia Jorge Maravilha cheio de razão, mais vale uma filha na mão do que dois pais voando. Você não gosta de mim, mas sua filha gosta.”
Abraços e Brigas (Taciana Barros / Edgard Scandurra): Releitura mais “azeitada” de uma canção do trabalho solo Scandurra. A Frase: “Abraços e brigas, tantas noites sem dormir. Bem que eu queria que o tempo não existisse só pra ter você, aqui.”
Sentado à Beira do Caminho (Erasmo Carlos / Roberto Carlos): Outro desafio, fazer uma versão para a belíssima canção da dupla Roberto e Erasmo, ponto para os paulistanos, afinal, o resultado é empolgante. A Frase: “Minha sombra me acompanha e vê que estou morrendo lentamente. Só você não vê que eu não posso mais ficar, ficar aqui sozinho. Esperando a vida inteira por você, sentado a beira de um caminho”.
A Vida Tem Dessas Coisas (Bernardo Vilhena - Ritchie): Em 1983, só existia um artista e sua fábrica de hits, o inglês Ritchie e seu álbum Vôo de Coração, deixando um legado para todo o sempre no universo do pop rock nacional. A Vida Tem… era só mais um dos destaques deste disco, a balada, que é uma perseguição gato e rato em busca do amor. Nasi e cia fizeram um bom arranjo, dando uma acelerada interessante para a canção. A Frase: “Me perdi no seu caminho, me encontrei falando sozinho. Sigo sempre sem destino pra te encontrar, pra conversar. Te convencer, te confessar. Quero só você!”
Alegria de Viver versão de Alegria de Vivir (R.Heredia): A versão original poderia ser tema de qualquer novela latina, eu acho cafona, sinceramente. Acho a releitura de muito bom gosto, combinando com o lead vocal de Edgard Scandurra. A Frase: “O inferno de tua glória, a passar por mim. Eu procuro noite adentro a alegria de viver.”
Minha Gente Amiga (San Martin / Ronnie Von): Ronnie Von em uma canção quase black music, com elementos do guitarrista Santana. O IRA! tentou maximizar essa segunda influência e produziu uma canção interessantíssima. A Frase: “Eu sou um homem. Um homem comum. Atrás do dinheiro, atrás do amor. Meus desejos são até bem simples e também minhas necessidades, ligadas ao século XX.”
Ficha Técnica:
Isso é Amor, Deckdisc, Abril Music, 1999.
Gravado no Estúdio Bebop/SP, produzido por Marcelo Sussekind.
Capa: Desenho Brava
Fotos: Feco Hamburguer
Músicos convidados:
Johnny Boy - Teclados
Walmir Gil - Trumpete em "Mudança de Comportamento"
Taciana Barros - Piano em "Abraços e Brigas"
Chiapeta, Nelson Cabelo, Andréia, Ivon - Vocal em "Minha Gente Amiga"
Marcelo Sussekind - Violão em "Sentado à Beira do Caminho", baixo em "Flashback" e guitarra base em "Minha Gente Amiga".
Participações Especiais:
Samuel Rosa (Skank) em "Um Girassol da Cor do Seu Cabelo". Artista gentilmente cedido por Sony Music.
Fernanda Takai (Pato Fu) em "Telefone". Artista gentilmente cedido por BMG.
IRA!
André Jung - bateria e percussão.
Edgard Scandurra - guitarra, violão, sintetizador e voz.
Marcos Nasi - voz solo e vocal.
Ricardo Gaspa - contrabaixo.