Desde criança, lá nos anos 80, sempre fui fanático por música, escutava o cara mais rock do nordeste que era Luiz Gonzaga, umas pirações de um cara maluco chamado Raul Seixas, as batidas dançantes de um cara que parecia ter futuro chamado Michael Jackson, afinal, lançou um superdisco intitulado Thriller, Balão Mágico, Ney Matogrosso e a banda dos caras pintadas do Kiss, que vieram ao país em 1983, senão me engano para 03 shows (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte). Meus pais ficaram de cara – apenas 11 anos – pedi para ir ao show, pense num “muído grande”, resultado esperado não fui. Era engraçado e superdesafiador escutar Kiss porque as amigas da minha mãe diziam: – Isso é coisa do capeta, o cara cospe sangue! Os evangélicos davam o significado: k.i.s.s.: Kids In Satan Service. Era transgressor, um ótimo sentimento para a época.
Com o passar do tempo, minhas pesquisas musicais foram se desdobrando e fui descobrindo o Pop Rock Nacional, que começou meio “new wave” – cabelos espetados, moda descabida e som bem levinho – a tendência comandada pelos jovens era a de ir se esquivando dos caminhos da consolidada MPB e criar estilo próprio, o pontapé inicial se deu em parte graças a artistas como Eduardo Dusek, Guilherme Arantes, Rádio Táxi, Marina, 14 Bis, Pepeu Gomes e outros.
A revolução começou no Rio de Janeiro com as idéias de Júlio Barroso na sua Gang 90 e as Absurdetes, a indefectível música Perdidos na Selva foi sucesso no Festival Shell de MPB em 1981 e decepcionante nas vendagens, mas entrou para os anais do BRock, o que faltava para balançar o mercado fonográfico e toda estrutura veio em 1982 com os shows da Blitz no Circo Voador/RJ. Evandro Mesquita e Lobão montaram uma banda teatral e divertida, em junho venderam 100 mil cópias do compacto Você Não Soube me Amar em apenas 3 meses, obrigando em setembro o lançamento do disco “As Loucas Aventuras da Blitz”, resultando em fenômeno nacional, logo após o estrondoso sucesso, Lobão sai da Blitz para vôo solo com “Cena de Cinema”, pavimentando uma carreira de altos e baixos, polêmica e de incontestável qualidade até os dias de hoje.
O boom causado pela Blitz encorajou diversas outras bandas a saírem de suas garagens, Lulu Santos, Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso e Kid Abelha foram sendo exportados do Rio para o resto do Brasil graças a Rádio Fluminense FM, o sucesso indescritível de Ritchie com o LP Vôo de Coração – Menina Veneno – e às gravadoras que descobriram a mina de ouro. Outras artistas de menor porte como João Penca e seus Miquinhos Amestrados, Léo Jaime, Magazine (Kid Vinil) e outros tiveram seu congraçamento. São Paulo não ficou para trás e trouxe à tona Inocentes, Titãs, Ira! e Ultraje a Rigor só para citar os mais atuantes.
Os anos de 1984 e 1985 foram importantíssimos para segmentar o Rock Brazuca na MPB, bons discos de estréia e o Rock in Rio com atrações (Ozzy Osbourne, Iron Maiden, Queen, Scorpions, AC/DC, grandes nomes da MPB mesclados com os emergentes Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso, Blitz, Kid Abelha e Lulu Santos) levaram as bandas às rádios e tvs de todo o país.
O Brasil descobria o rock, vivíamos de U2, Pink Floyd e outros, agora tínhamos o orgulho e o prazer de ir em shows bem organizados e estruturados tecnicamente, ouvir bons discos na nossa própria língua e até nos permitir tietar e conseguir mais informações sobre os artistas. Deixou de ser um movimento setorizado, o que era importado do Rio e com conseqüente concorrência paulistana, começava interagir com outros estados, Bahia (Camisa de Vênus), Rio Grande do Sul (Engenheiros do Hawaii e Nenhum de Nós) e a imponência das bandas de Brasília (Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude, só para citar os proeminentes e até os Paralamas que dividem até hoje a Capital com a Cidade Maravilhosa). Os pontos a favor do Rio e São Paulo é a estrutura para gravação e a facilidade para buscar contratos, mas Brasília foi fundamental, recebendo a alcunha de capital do rock.
Vou citar alguns LPs: Cabeça Dinossauro / Jesus Não Tem Dentes nos País dos Banguelas (Titãs), Dois / Que País é Esse? (Legião Urbana), Rádio Pirata ao Vivo (RPM), A Revolta dos Dândis / Ouça O Que Eu Digo Não Ouça Ninguém (Engenheiros do Hawaii), Capital Inicial (Capital Inicial), Cidades em Torrentes (Biquíni Cavadão), Vivendo e Não Aprendendo / Psicoacústica (Ira!), O Concreto Já Rachou / Nunca Fomos Tão Brasileiros (Plebe Rude), Vida Bandida / Cuidado (Lobão), Nós Vamos Invadir Sua Praia (Ultraje a Rigor), Passos do Lui / Selvagem? / D (Os Paralamas do Sucesso), mudaram minha vida, clássicos e irreparáveis, possuem canções que discotecam e trilham os acontecimentos que me cercam.
A música é imprescindível, o rock é atitude e os anos 80 possuem todos os ingredientes para que eu seja só felicidade, enquanto minha geração cresceu na criatividade, as duas próximas décadas cresceram com axé, lambada, sertanejo e funk, é mole? Os anos 90 até começaram bem, O Rappa, Raimundos, Skank, Maskavo Roots, Nação Zumbi, Planet Hemp, Little Quail and The Mad Birds, são alguns exemplos de boas bandas da década, não chegou a ser explosiva quanto na década de oitenta, mas produziu bons sons, agora a década atual é digna de um tiro no pé, onda emo e cpm22 – melhor C polícia federal ao invés de C PM – explosiva? É uma década de traque, pólvora molhada, destaco só a hiperativa Pitty, muito boa em todos os sentidos!
O que? Se eu gosto só de Rock Nacional? Claro que não! Curto muito Nirvana, Red Hot Chili Peppers, System of a Down, U2, Metallica e etc, etc.
Outro dia contarei histórias de shows nacionais e internacionais, acho que vão gostar de saber!
O Engraçado é que muita gente diz que ninguém gosta de rock, mas todo mundo escuta rock, que todo roqueiro é maltrapilho, mas todo mundo se veste igual a roqueiro, pode reparar.
Acompanho, curto, me divirto, critico e enalteço o rock. Se o rock vai morrer? Acho que já morreu, mas vive de zumbis criativos, prefiro a zumbizada do que mulambada de ritmos do bumbum na boquinha da garrafa ou dos violões cornos e chorosos com cerveja.
Abração e curta o nosso dia!
0 comentários:
Postar um comentário